Uxélia
Madrinha da Casa dos Violeiros
Ela começou assim, timidamente, com seu jeito polido de professora universitária, mas com seu carinho, suas contribuições relevantes e dedicação a Casa, conquistou o espaço e o coração da Casa dos Violeiros. Inicialmente foi jurada do Primeiro desafio de Viola da Casa; ajudou na sistematização e redação do Regulamento do Desafio dos Violeiros.
Esta mulher inteligente e prática possui o coração de uma mãe e está sempre disposta a ouvir dizer a palavra certa, justa e necessária. Uxélia (Lucy Figueiredo) nasceu em Juazeiro da Bahia, mas considera-se uma nordestina típica. Seus pais potiguares, naturais de Natal RN, nunca pararam muito tempo em um lugar só.. Moraram em Floriano- Piauí, Recife e Olinda no PE, e quando Uxélia faz 7 anos retornam à Natal. Dos lugares por onde andava, seu pai (Seu Vavá), um caixeiro viajante no ramo de pedras preciosas, seresteiro, boêmio, sempre trazia pra casa, além de uma mala cheia de presentes, histórias fantásticas que contava aos filhos. Batendo palmas dançava e catava para os filhos cocos, calangos, repentes, para alegrar a filharada. Assim, nossa madrinha cresceu em meio à riqueza cultural das terras e povos que conheceu, das férias pelo interior do Rio Grande do Norte onde tinha contato com os sons das violas dos cegos violeiros nas portas das igrejas, com as alegrias das vaquejadas, com as obras de mestre Vitalino, com os repentistas da feira de Igaraçu (PE) e do Mercado Central em Natal. Desde menina adorava ir à festa dos Santos Reis, ver as Cheganças, os Maculelês e as Marujadas. Em São Gonçalo do Amarante, bairro de Natal ia às festas arrastada pela mão de sua tia e ficava maravilhada com tanto colorido, tanta gente e tanta viola. Aos 14 anos a família, separada do pai vai para o Rio de Janeiro. A menina da cidade com gostos culturais diversos, tem contanto com o samba carioca, o partido alto, o fundo de quintal; aos 17 anos, casa-se com Arcenio, natural de uma cidade do interior fluminense, onde o casal vai morar.
Dizem que o amor faz milagre! E fez!
Com arcenio, ela aprende a amar a moda de viola, as músicas de Tião Carreiro e Pardinho, João Mulato e Douradinho, Dino Franco e Mouraí, Trio Parada Dura e tantos outros ouvidos no rádio e nas festas de casamento e aniversário onde violeiros se apresentavam. Findo o casamento, volta para casa dos pais no centro do Rio, de onde nunca mais saiu. Mas o amor pelo campo, a saudade da roça faz com que escreva lindas poesias as quais assina sob o heterônimo Laura – O Bardo, poesias estas que, sua irmã, inscrevia em concursos literários de poesias, chegando a ganhar duas vezes em segundo lugar com as poesias Jaceruba, e Saudade da Roça. Poesias estas classificadas de Poesia Rural por uns e Poesia Árcade por outros.
Eis algumas:
Viola mulher
A viola nas mãos de um violeiro
é mulher amada com paixão.
Soluça com o desejo que aflora,
fazendo palpitar o coração.
O dedos que percorrem em acordes,
As mãos que deslizam com perícia,
As notas pungentes choram choram,
Soluça a amada em carícias.
O corpo da mulher é uma viola
Tocada pelas mãos do violeiro,
Amada por ardente e hábil amante
Que encanta entre tons o dia inteiro.
Laura – O bardo
Farinhada vamo encomendar peãoPara os frutos "mealhar". Trabaio tem de montão. Chega de purrinhação De eito em eito roçar. Eita sol,que vem a pino queimando a pele mestiça do caboclo inda minino, Que ao trabaio se atiça, Pra colheita terminar. Calo na mão é estória que se conta de memória pros fio todo ensinar. Lá na casa de farinha as muié fazem tarefa, Noite adentro forno quente Joana, MAria e e Dona Zefa. Cascam , ralam põe na prensa Descansa pra massa afinar tira água pro polvilho Mingau pra minino vai dar. |
O cantar ao pé do fogo Mexe as pá pra não queimar Se fica muito difici Samuca vem pra ajudar. Depois vai daqui e dali Come um beiju pra adoçar, Mexe mais as pá no tacho Depois vai simbora zanzar. Todo ano é sempre assim, Terra vermelha é o que há, Tombada pra receber Os frutos que a terra dá. Os pião vão ter trabaio, Para os fio sustentar Nos meses de farinhada Fartura é o que há. Quem já viu essa colheita, Nem pode imaginar Que aqui no Rio de janeiro Que essa lida seja feita Sem ter ninguém pra contar. |
Em nossa Comunidade, Uxélia sempre nos presenteia com um verso, com um carinho e nos alegra com seu afeto, seu cuidado e dedicação. Apreciadora da moda de viola, a respeitável professora universitária, compartilha de forma democrática sua página entre seus alunos, seus colegas de trabalho e seus afilhados da Casa dos Violeiros.
Atualmente, aprendiz de violeira tem se empenhado nas aulas de viola com o talentoso músico e violeiro Yassir Chediak. No Rio de Janeiro, Uxélia conseguiu, por intermédio da Casa dos Violeiros, reunir alguns violeiros aprendizes, colegas de aulas com Yassir. Uxélia tem um jeito todo especial de unir pessoas e tem sido um forte elemento de união e de consolidação dos laços de amizade entre os membros da Casa a quem ela calorosamente acolheu como afilhados.
Uxélia e Sérgio
Luiz, Yassir Chediak, Uxélia e Sérgio
Além de importante colaboradora, levando o estandarte da Casa dos Violeiros com grande dignidade e respeito. Uxélia é uma amiga de lealdade inquestionável: leal aos amigos e aos seus ideais, leal à Casa dos Violeiros trabalhando pela divulgação do nosso trabalho acerca da viola caipira, nos meios de comunicação.
Nós da Casa dos Violeiros só temos a agradecer e pedir a Deus que suas bênçãos estejam sempre conosco.
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Benção da Madrinha |
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Uxélia |
Deus nos abençoe e nos conduza ao êxito.
Que nossa colheita seja próspera,
Nossa mesa seja farta,
Que os frutos do nosso trabalho sejam recompensados.
Que somente o Bem nos toque.