As Afinações da Viola
Em geral as afinações da viola são conhecidas por nomes regionais, populares assim: cebolinha, cebolão, do sossego, etc... Por exemplo, afinação em Mi é a Cebolão. E como muitos violeiros só conhecem uma afinação, afirmam que na viola não há "tom menor", dando só a posição "maior".
Ilustramos com clichês algumas afinações com seus respectivos nomes populares, regionais paulistas. Comecemos com o Cebolão, uma das mais comuns.
Boa afinação para sapateado, por isto mesmo a preferida pelos catireiros, xibeiros, catereteiros e fandangueiros. Em geral os violeiros genuínos dizem que é a mais positiva das afinações: "é a que São Gonçalo ensinou", dizem os seus devotos. Outros, " a melhor para se pisar nas cordas da viola", " não desaparece por mais ferrado que seja o palmeado do cateretê."
A Cebolinha simples é a afinação preferida pelos modinheiros. Fazendo uma pestana no segundo trasto é "quatro paus" para sapateado, "declara bem no bate-pé".
Há outra cebolinha (pelas três cordas) também conhecida por "Ré Acima" ou "Cebolinha pelo meio", apropriado para solar músicas. Nesta afinação, o pai da aviadora Anésia Pinheiro Machado, o itapiningano Gustavo Pinheiro Machado, saudoso virtuose da viola, tocava tudo: desde as modas de viola até Chopin, desde os cateretês mais barulhentos até Brahms. Hoje, ainda os poucos solistas que nós conhecemos, preferem-na às demais.
A afinação Cana Verde ou para Cururu é uma das mais simples (ré-sol-si-mi-lá) utilizada para a cantoria destas duas modalidades.
A afinação preferida para o Fandango, pelo menos foi o que anotamos no litoral sul paulista, é a oitavado, de Guitarra ou Ponteado do Paraná. Os paranaenses do litoral norte, de Paranaguá e adjacências, quando vão em romaria à Iguape, a 6 de agosto de todos os anos, costumam afinar suas violas desta maneira (ré-sol-dó-fá-lá sustenido) Quem sabe vem daí chamarem-na de Ponteado do Paraná. Usada também para ponteio e moda, não apenas para a dança do Fandango, modalidade de dança que está desaparecendo, tanto o fandango rufado ou batido, como o fandango valsado ou bailado.
Sossego ou castelhano é uma das posições pouco usadas, embora seja uma das mais fáceis para execução.
Quatro-pontos - Esta afinação é igual à do violão. Em geral, tocador de violão quando passa a tocar viola, afina-a nesta.
Em Ubatuba, encontramos duas afinações que a princípio julgamos novidade: a de Reza e a de Contoria do Divino. Após exame perfunctório verificamos que as duas nada mais são do que a Quatro-Pontos do serra-acima, que no beira-mar assumiu denominação diferente. Para a Cantoria do Divino a colocação dos dedos é do primeiro ao terceiro trastos, já para a Reza é do quinto trasto ao oitavo.
As afinações variam de região para região brasileira, assim é que existem as chamadas goiana, goianão, ponteado do Paraná, etc. Em S. Paulo, onde os filhos de outras Estados têm vindo para a obra de engrandecimento desta grande forja de trabalho, para os cafezais ou pastoreio, têm recebido a influência dos demais filhos desta grande Nação na sua arte popular e no que concerne à músico ou uso de um instrumento como a viola, o fato é verificável, está ai para ser pesquisado e estudado. Assim é que muitos nordestinos gostam de afinar suas violas em: mi-si-sol-ré-lá. É claro que a inter-relação favorece a influência e a adoção de novos padrões. No entanto, os paulistas genuínos continuam a dar preferência ao Cebolão. É claro que as referências também podem variar, por exemplo em Taubaté, para o Cateretê a afinação é fá sustenido, si-mi sustenido - sol sustenido - dó sustenido.
Diz o velho ditado: "em festa de jacu, inhambu não pia". É bom que me cale por aqui, pois este assunto é para os musicólogos e não para antropólogo que entrevistou 818 violeiros. Pontofinalizamos aqui o nosso estudo sobre a Viola.